21 novembro 2006

Oração do Milho de Cora Coralina

Por Eder Silva

A autora na elaboração do poema, de forma telúrica, enfatizou o sentido humano, que foi comparado a todo o ciclo do milho, desde a sua plantação até a época da colheita. O ciclo é dividido em partes: descrição e narrativa.

Na parte da descrição do poema, enfatiza-se a descrição do milho, “Às vezes vareia, - espiga roxa, vermelha, salpintada.”. Sendo nesta parte mostrada muitos detalhes do milho em si, sempre em comparação com a vida humana.

Na parte narrativa, vemos desde a plantação, nascimento, crescimento e colheita do milho, como um todo; sempre sendo mostrada a comparação com as fases do ciclo da vida dos seres humanos. Ponto forte do poema, pois nos mostra como toda a vida é cheia de ciclos.

Os valores que são expressos no texto mostram como o trabalho com o milho, desde a preparação da terra, o plantio e a colheita, são bastante figurados, com uma prosa macia e rebuscada, com uma linguagem bem caipira e com muitos verbetes do povo do campo. Essa linguagem retrata todo o viver do homem do campo, como seus dias de alegrias e tristezas.

A humildade das pessoas que trabalham com o milho é destacado no poema: “Camisa de riscado, calça de mescla.”. Com toda a simplicidade do homem do campo, ela retrata como é passada toda a situação. Esta simplicidade que fez do homem do campo, pessoas sábias que com pouca instrução e quase nenhum estudo, saber coisas que somente pessoas graduadas têm noção que significam.

A sensibilidade com que o povo trata a terra, algo sagrado, pois dela vem todo o sustento das famílias do campo. Algo de suma importância que deve ser bem cuidada para algum dia não venha a faltar e prejudicar a vida. Ritual feito com fé e devoção, algo sagrado para o homem. Toda esta devoção vem como força para que as gerações futuras entendam os valores da terra e dos frutos produzidos por ela, algo vital para a nossa sobrevivência.

Na hora da colheita, todos se unem em um só, para ajudar e festejar a toda a fartura, festejar e agradecer as bênçãos que foram derramadas na plantação. A valorização da vida, como por exemplos os pássaros que ficam a se fartar do milho da roça: “E os bandos de passos-pretos galhofeiros gritam e catam na respiga da palhada.”. A partilha da fartura é algo que mostra o espírito de caridade e amizade entre as famílias, algo nobre para eles.

O poema é um belo exemplo de como um simples ritual do cultivo do milho tem tanta importância para as pessoas que estão envolvidas neste processo. A comparação com o ser humano vem para nos mostrar como é belo o dom da vida e como ela tem seus estágios de ciclos durante o seu tempo de existência. Como o próprio título já diz esta realmente é uma oração, pois mostra suplicas e anseios da vida do homem do campo.

Referência Bibliográfica

CORALINA, Cora. Poemas dos Becos de Goiás e Estórias Mais. São Paulo: Global, 1996.